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domingo, 4 de julho de 2010

Pensando o vídeo na formação de professores


Glaucia Guimarães


Não é de hoje que o vídeo é utilizado na formação profissional, inclusive na de professores. Infelizmente até aqui predominaram os “cursos em vídeo”, que geralmente se configuram como aulas gravadas “didaticamente bem divididas”, como na imagem ao lado de um dos programas da TV Escola, bem diferentes dos vídeos com os quais todos os dias nos relacionamos via internet, pela televisão ou através das mensagens que compartilhamos pelo celular ou pelo computador.
Estes últimos são multimidiáticos. Circulam por diversas mídias, articulando palavras, imagens e sons de forma peculiarmente contemporânea. Muitos deles são produzidos por grandes instituições, mas já há uma grande parte produzida por pessoas comuns.

Assim, é na condição de textos contemporâneos que precisam ser considerados em qualquer prática pedagógica como um dos objetos de estudo e tipo de texto entre os mais importantes. Afinal, um dos objetivos de qualquer proposta pedagógica é o de possibilitar a apropriação dos modos de comunicação para a plena participação na sociedade.

O problema é que se estes vídeos não podem ser negligenciados, tampouco podem configurar “a” proposta pedagógica. Muitos acham que produzir vídeos que “ensinam como ensinar” é uma ótima saída para a formação em larga escala de professores. Neste viés, existem até aqueles que creem que com uma produção audiovisual didaticamente bem elaborada resolverão os problemas que a escola enfrenta. Desse modo acabam substituindo toda a proposta pedagógica pelo vídeo.

Outro exemplo que pode ilustrar é o da utilização de vídeo para capacitar professores a distância – aliás, o próprio termo capacitar já denota o pressuposto de incapacidade do professor. Este material quase sempre se revela como “curso em vídeo” elaborado por especialistas e única alternativa pedagógica. Invariavelmente, o resultado é a segmentação de dois campos do conhecimento pedagógico: o elaborado na universidade e o construído pelo professor na prática escolar.
Do nosso ponto de vista, os vídeos, quando usados nas práticas pedagógicas como prática de comunicação, ao invés distanciar campos do conhecimento ou hierarquizar sujeitos, podem aproximar e possibilitar a inteligibilidade entre campos e pessoas.

Felizmente muitos professores, junto aos seus alunos, usam vídeos, não como recursos didáticos audiovisuais para ensinar “o” correto, mas como textos com diversos sentidos a serem questionados/compartilhados. Produzem novos textos/vídeos que sintetizam perspectivas, independentes e diferentes dos vídeos produzidos pelas grandes produtoras, como os vídeos produzidos por jovens como os que figuram no Youtube, ou em blogs como o Anões em Chamas, ou, ainda, em sites como VideoArtnet. Muitos destes vídeos são veiculados pela web ou apresentados por algumas produtoras/emissoras de televisão, ajudando a combater o desperdício da experiência construída no “chão da escola”, tornando visíveis alternativas reveladoras e a inteligibilidade entre experiências e campos de conhecimento de dentro e de fora da escola.


sobre o(a) autor(a):

Professora da UERJ (Faculdade de Formação de Professores). Doutora em Educação pelo ProPEd.

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